"(...) Aonde está a força de negar um desejo se enquanto ele não é saciado continua existindo?
Desejos
nascem, ocupam lugares interessantes do seu corpo, e não morrem antes
de um formigamento exausto de prazer, uma manhã de arrependimentos e
clicks que a vida nos dá, também chamados de momentos de verdade, que em
muito se parecem com toques de mágica para você sair do estado
encantado e falso da imaginação.
O tempo não se encarrega de matar desejos, apenas de substituir os personagens.
Você
pensa que é forte sendo moralista, respirando fundo, contando até mil,
rezando, desviando sua atenção, mas o desejo está lá, num bar com
amigos, te olhando de longe.
Ele
está no vazio que deixou, na dúvida de como poderia ter sido, na
esperança do próximo encontro, na consciência leve pela negação e pesada
pela cobrança de um tesão ainda latente.
Pecados
existem, não os julgados por Deus, não as pecuinhas julgadas pelos
humanos. Pecados existem dentro dos corações traidores.
Mas
se antes meu coração ardeu e se assustou de pecados, agora ele chora de
saudade, de covardia e de aceitação. Ele está puro e nem por isso
tranqüilo.
Esse
é o maior problema dos desejos, eles não aceitam não como resposta.
Você só coloca um ponto final nele se for até o fim. E o fim pode ser um
simples enjôo ou, na pior das hipóteses, a morte.
Mas você viveu. Para matar um desejo é preciso viver, nem que depois você morra junto com ele.
Indo embora para casa, segurei o peito, que parecia solto, e abafei uma lágrima. Como
eu queria agora estar com ele. Por aquelas horas de delícias e mais
meia de arrependimento na hora de se vestir. Por aqueles segundos de
esquecimento, mais meses de lembrança. Por algumas palavras idiotas,
mais muitas contidas para não parecer idiota.
O desejo me acompanhou até em casa. Muito, muito mais forte que minha nobreza em ter dito não.
Ele está lá. No seu coração, na sua mente, no cheiro que você carrega junto com seu passado. (...)
Não quero uma só uma escapadinha, não quero uma vida ao seu lado. Não quero nunca mais te ver. Queria ter dez minutos com você, o bastante para não mudar minha vida em nada.
(...) Mais do que qualquer certeza, confusão é paixão.
Quis
demais que você fosse embora, quis demais que você ficasse pra sempre,
quis não pensar, me agarrei numa lógica fria que berrou no meu ouvido
que toda ação tem sua reaç o.
(...) O desejo era tanto, que travei. Tive medo que você tirasse minha maquiagem e a roupa que vesti
para seduzí-lo. Tive medo da hora de ir embora, a maior solidão é não
poder dormir nos seus abraços, pois ele é meu apenas por horas.
Tive
medo de ser só desejo, porque para mim já é mais. Prefiro ser
perseguida pelo meu desejo, que não tem dia para acabar, do que ser
abandonada mais uma vez pelo seu, que dura no máximo algumas horas."
Tati Bernardi